Como foi sitado no post introdutório sobre glucocorticóides, uma das características mais fantásticas e úteis desses compostos é a sua capacidade de reprimir respostas inflamatórias e alérgicas de forma geral. Mas como, bioquimicamente falando, isso é feito?
Para responder a essa pergunta vamos explicar, primeiro, o que caracteriza uma resposta inflamatória.Uma resposta inflamatória caracteriza-se pelo conjunto de ações do organismo quando este visa responder imunologicamente a um agente externo. Essa resposta inclui uma série de mecanismos, dentre eles a ação de células fagocitárias profissionais(como os macrófagos, que fagocitam o agente invasor e apresentam suas proteinnas a outras células do sistema imune -principalmente linfócitos -ativando-as), a interação com receptores do complemento e liberação de citocinas(como as interleucinas, TNF-alfa, interferon gama, histamina, …), que “alertam” o organismo para a presença de agentes invasores, entre outros.
Poupando um pouco a parte de imunologia, um dos principais mediadores dessa resposta inflamatória, ajudando a mantê-la e dispersá-la pelo organismo são compostos lipídicos do grupo dos eicosanóides, sobretudo as prostaglandinas(PG), os leucotrienos(LKT) e as tromboxinas(TX).
O nome eicosanóides vem do prefixo grego “eiko”que significa vinte, isto é, os eicosanóides são derivados de ácidos graxos com 20 carbonos. Esses compostos são todos sintetizados a partir do ácido aracdônico, um ômega seis presente na membrana plasmática e liberado por ação da enzima fosfolipase A2, quando o tecido é danificado, exposto a toxinas ou a estímulo hormonal.
O ácido aracdônico é então oxigenado por duas vias preferenciais: a via da ciclooxigenase e a via da lipoxigenase.
Na via da ciclooxigenase há uma adição de duas moléculas de oxigênio ao ácido aracdônico, seguido por rearranjos da molécula enzimaticamente controlados produzindo um grupo de eicosanoides oxigenados com múltiplas funções (PGD2, PGE1, PGE2, entre outros). A primeira enzima nesse processo é a PGH sintase ( ou COX), que atua catalisando a adição do oxigênio(para formar a PGG2- um endoperóxido bicíclico) e a posterior redução do hidroperóxido do carbono 15 da PGG2, transformando-a em PGH2- um álcool.Essa prostaglandina H2, por sua vez, serve de substrato para enzimas específicas que atuam produzindo TXA2(tromboxina A2), PGI2(prostaglandina I2), entre outros.
A via da lipoxigenase produz um a gama de peróxidos lipídicos não cíclicos( ácidos hidroperoxieicosatetraenóicos, HPETEs) e álcools derivados destes(ácidos hidroxieicosatetraenóicos HETEs), que são posteriormente convertidos em vários leucotrienos. Apesar da ação específica de cada um desses compostos não ser plenamente conhecida, acredita-se que estejam relacionados a recrutação de células para o local de inflamação.Além disso, sabe-se que os leucotrienos, derivados desse processo, são broncoconstrictores de longa ação. Muitos remédios para asma e que reduzem reações alérgicas involvendo choque anafilático atuam inibindo a síntese de leucotrienos.
Os glucocorticóides e os anti-inflamatórios a base de ácido acetilsalicílico (aspirina) atuam de diferentes formas sobre essas vias, inibindo ou reprimindo o processo inflamatório. Explicaremos como isso ocorre em maiores detalhes nos próximos posts. Continuem acompanhando nosso blog...
Por Daniela Frank de Albuquerque
Bibliografia:
Wilson and Gisvold's textbook of organic medicinal and pharmaceutical chemistry- Block, John H.; Beale, John M.- eleventh edition- chapter 24- pages 818 to 823.
Prostaglandins and Leukotrienes: Advances in eicosanoid biology
Colin D. Funk, et al
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